sábado, 1 de setembro de 2012

Bem Estar em Animais Silvestres


Bem Estar em Animais Silvestres
A manutenção de animais selvagens em zoológicos iniciou há muito tempo, ainda nas civilizações antigas. Os egípcios capturavam pequenos gatos selvagens, babuínos e leões durante suas viagens e batalhas e os mantinham nos seus templos simbolizando poder e força.
O primeiro zoológico do qual se tem registro foi construído em 1752 em Viena, denominado Imperial Menagerie. No século XVIII em Paris foi fundado o chamado “Jardin des Plants”. Posteriormente , em 1826, foi fundado o Zoológico da sociedade de Londres com objetivo cientifico para estudo da zoologia. Nestes zoológicos, os recintos e as jaulas eram construídos para proporcionar aos visitantes o melhor ângulo de visão, e não para dar boas condições de vida aos animais, pois não havia uma preocupação com o bem-estar animal.
                Só em 1900 foi fundado, na Alemanha, o Stellingen Zôo onde os animais tinham recintos mais apropriados, simulando um pouco seu ambiente natural e com espaços maiores, demonstrando uma preocupação com a minimização do desconforto dos animais. A partir deste zoológico, outros países da Europa e os Estados Unidos da América passaram a tê-lo como modelo,  e o bem-estar animal passou a ser levado em consideração.

Figura 1: Stellingen Zôo - Alemanha

No século XX houve uma mudança no enfoque da utilização dos zoológicos, que deixaram de ser meras coleções, passando a desenvolver atividades e funções voltadas para a conservação da fauna regional e global. Muitos estudos  são desenvolvidos nos zoológicos modernos.
Há muito tempo, bem-estar é um termo de uso comum presente nas sociedades humanas. Segundo Molento,2007  a ligação com os animais encontra-se onipresente na história da humanidade e a ideia de que os animais sentem, e que seu sofrimento deve ser evitado, é bastante aceita e fundamentada. Mais recentemente, com os avanços da pesquisa em etologia animal na década de 1970, as preocupações com a proteção do bem-estar animal, por vezes rotuladas anteriormente como “leigas”, começam a adentrar de maneira importante o ambiente acadêmico.
O estudo científico do comportamento animal pavimenta as bases para o reconhecimento da complexidade da vida animal individual. Adicionalmente, ocorre um detalhamento crescente das expressões animais relacionadas à presença de consciência e sentimentos, de maneira marcante nos animais vertebrados.
O termo “senciente” significa, de forma simples, “que sente; que tem sensações”, embora alguns dicionários, como o Aurélio, o associem à razão. A discussão sobre a intensidade de sofrimento das inúmeras espécies animais e a tentativa em classificar o grau de sofrimento em função da classificação no reino animal é importante, embora não tão importante quanto a responsabilidade do ser humano em relação às outras espécies animais, independentemente de seu grau de senciência.

 Figura 2: Jaguatirica (Leopardus pardalis)

Toda espécie animal apresenta um comportamento normal padrão. A presença de comportamentos anormais pode ser considerada um indicador de que o bem estar desses seres vivos não está sendo alcançando. Sabe-se que o cativeiro é um fator limitante, e leva muitos animais a terem um comportamento diferenciado, até neurótico, sendo considerado um comportamento anormal, já que os locais onde permanecem confinados não proporcionam a eles as mesmas condições que seu habitat natural, interferindo no seu bem-estar.
Os animas possuem uma habilidade chamada de comportamento de coping, ou seja, estratégias para se adaptar a situações adversas. Esse comportamento pode ser considerado um mecanismo adaptativo, sendo uma resposta para reduzir os efeitos fisiológicos do stress. Isso nos ajuda a entender porque alguns espécimes desenvolvem doenças de cunho psicológico e outros não.
Para minimizarmos os efeitos prejudiciais e proporcionarmos esse bem-estar aos animais mantidos cativos em zoológicos, um importante aliado é o enriquecimento ambiental, que objetiva tornar estes locais mais favoráveis a vida desses animais.
O enriquecimento ambiental pode ser:

1)      Físico: consiste em introduzir aparatos nos recintos (vegetações, diferentes substratos, estruturas para se pendurar ou se balançar, como cordas, troncos ou mangueiras de bombeiro, entre outros) que os deixem semelhantes ao habitat de cada uma das espécies.


Figura 3: Enriquecimento físico em recinto de bugios


2)      Sensorial: consiste em estimular os cinco sentidos dos animais, introduzindo, por exemplo, vocalizações, ervas aromáticas, urina e fezes de outros animais.
 

Figura 4: Enriquecimento sensorial com lobo-guará


3)      Cognitivo: consiste em colocar dispositivos mecânicos, como quebra-cabeça,para os animais manipularem.

Figura 5: Enriquecimento cognitivo com arara azul

4)      Social: Consiste na interação intra-específica ou inter-específica que pode ser criada dentro de um recinto. Os animais têm a oportunidade de interagir com outras espécies que naturalmente conviveriam na natureza ou com indivíduos da mesma espécie.

Figura 6: Enriquecimento social e alimentar com araras


5)      Alimentar: tem um papel fundamental para melhorar a qualidade de vida de animais em cativeiro, pois na natureza eles procuram e caçam seus alimentos, variando de acordo com cada espécie. Seria oferecer ocasionalmente, alimentos que consomem em seu habitat natural e não fazem parte do cardápio em cativeiro, e variar a maneira, freqüência e horário como estes são oferecidos


Figura 7: Enriquecimento alimentar com urso

 Muitas pesquisas confirmam os benefícios que o enriquecimento ambiental traz para os animais.
Na tabela 1 podemos verificar os valores estimados e reais do consumo de ração por sagui-de tufo-preto com e sem o enriquecimento ambiental. É notável a diferença benéfica para o grupo de animais do tratamento com enriquecimento ambiental.



O enriquecimento ambiental é uma alternativa viável para melhorar o bem estar dos animais em cativeiro contribuindo para a redução de comportamentos considerados anormais e melhorando a qualidade de vida desses animais.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

SAAD, C. E. P.; SAAD, F. M.O.; FRANCA, J. Bem-estar em animais de zoológicos. R.
Bras. Zootec., v.40, p.38-43, 2011

SILVA, J. C. R.; SIQUEIRA, D. B.; MARVULO, M. F. V. Ética e bem-estar em animais
silvestres: unidades de conservação. Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1,
p.61-65, abril, 2008.

MOLENTO, C.F.M. Bem-estar animal: qual é a novidade? ActaScientiae Veterinariae, v.35, p.s224-s226, 2007 (supl. 2).


                                                                                                             - Rosane Oliveira Cruz